ALTAS APOSTAS
Está em jogo algo da maior
importância — para um personagem, uma família, às vezes uma nação inteira. A
vida de pelo menos um personagem destacado corre perigo. O indivíduo em perigo
costuma representar não apenas ele próprio, mas uma comunidade, uma cidade,
todo um país.
Em muitos grandes romances
de mulheres, no entanto, o que está em jogo não é vida ou morte, mas a
realização pessoal, como acontece com Scarlett em E o Vento Levou. Essa
perspectiva — a consumação ou não de um relacionamento amoroso — possa parecer
por si mesma trivial, da vida cotidiana, os desejos, anseios e paixões dessas
heroínas recebem de suas criadoras uma intensidade tão vigorosa e inexorável
que o que está em jogo para elas parece ao leitor tão poderoso quanto um
homicídio ou uma catástrofe nacional.
Ex.:
1- Feliks, O Homem de São
Petersburgo, como caçador, se tiver êxito, não apenas mata um homem, mas com
isso também impede que a Rússia se alie à Inglaterra contra a Alemanha; salvará
assim milhões de seus jovens compatriotas de serem mortos numa guerra insana.
Para Lorde Walden e os agentes britânicos que perseguem Feliks, as apostas são
altas. Se conseguirem proteger o príncipe russo, não salvam uma vida humana,
preservam uma aliança com o Czar, ao mesmo tempo, salvam sua amada Inglaterra de ser dominada
pelo Kaiser.
PERSONAGENS MEMORÁVEIS
Personagens memoráveis. Os
personagens na ficção, como na vida, são definidos pelo que fazem, e nos
grandes romances os personagens principais fazem coisas extraordinárias.
Ex.:
1-Don Corleone em O Poderoso
Chefão deseja um papel num grande filme de Hollywood para seu afilhado. O
diretor do estúdio, indignado por ser sutilmente ameaçado, rejeita o pedido. O
Don, para demonstrar seu poder e determinação, providencia para que o grande
troféu do executivo, um cavalo de corrida vitorioso, seja morto, e sua cabeça
cortada posta na cama do homem. Virtual poder absoluto sobre seus parentes,
servidores e extensas áreas de empreendimentos ilícitos.
2-E o Vento Levou, Scarlett
é apresentada como uma adolescente, volúvel, irreverente, egoísta e mimada.
Quando a maré da guerra vira contra a Confederação, e Atlanta, um inferno, está
sendo invadida, Scarlett encontra a mãe morta, pai senil, irmãs acamadas,
plantação devastada, não há dinheiro, nem comida. Ela, que nunca trabalhara,
reúne energia e coragem para arar os campos e obrigar os criados rebelados e as
irmãs a ajudarem. Quando um ianque ameaçador invade a casa,tem a presença de
espírito de pegar uma pistola, e depois encontra coragem para atirar no ladrão.
O meio que lhe ocorre para não perder sua amada plantação, pelo não pagamento
de impostos, é persuadir Rhett Butler a casar com ela. Mas não se apresenta
como uma suplicante. Ela corta as cortinas de veludo de sua mãe para fazer um
vestido, a fim de poder se apresentar a ele como uma rainha concedendo favores.
A QUESTÃO DRAMÁTICA
O personagem conseguirá
fazer o que precisa? Conquistará o que necessita? Se tornará e terá seu anseios
pessoais realizados? O que ele precisa acontecerá. Como seu aliados colaborarão
e seus inimigos o atrapalharão?
A Questão Dramática do
início ao fim gira em torno disso. A expectativa crescente, de que o
protagonista consiga o que quer, passando por obstáculos e mais obstáculos, até
o clímax — o obstáculo derradeiro, o tudo ou nada!
O Protagonista conseguirá ou
o Antagonista o impedirá? Sobre os personagens que se opõe, quem vencerá?
À primeira vista podem
parecer complicadas.Em E o Vento Levou, por exemplo, seria longa e complexa.
Uma análise cuidadosa, revelaria que a Espinha Dorsal — o conflito central persistente, em torno do qual os personagens
principais interagem, a questão fundamental que impulsiona e integra suas
incontáveis cenas — não poderia ser mais básica e definida. Essa fundação é
o fator de suspense, que eu chamo de Questão Dramática.
Ex.:
1- E o Vento Levou há três
questões dramáticas: Scarlett conseguirá fazer com que Ashley retribua seu
amor? E mais adiante, depois que se torna evidente que Ashley não é o homem
certo para ela: Scarlett reconhecerá que na verdade é Rhett quem ela ama? E
Rhett algum dia conseguirá conquistar o amor dela?
2- Em O Buraco da Agulha, é
o seguinte: Needle conseguirá escapar para a Alemanha com os planos aliados
para a invasão no Dia-D, ou os agentes britânicos conseguirão pegá-lo antes?
3- O Dia do Chacal, gira em
torno de uma tentativa de assassinar Charles de Gaulle. Aqui, a questão
dramática é bem simples: O Chacal conseguirá liquidar o presidente francês, ou
o inspetor de polícia, em seu encalço, poderá descobri-lo primeiro, e evitar
que isso aconteça?
Não apenas os grandes
livros, mas também os romances de gênero e as obras românticas, também são
estruturados sobre uma questão dramática expressa: O detetive vai encontrar o
assassino? A heroína vai se unir ao homem de seus sonhos? Esses livros carecem
de outras características do grande romance.
ALTO CONCEITO
Alto Conceito é questão
dramática forte, que possibilita produzir um grande livro. Em essência uma
premissa radical ou mesmo um tanto extravagante.
O ponto a ressaltar aqui é
que os grandes livros precisam ser construídos sobre situações bastante
dramáticas, tramas que incluem ações bizarras e surpreendentes, e que levam a
uma vigorosa confrontação depois de outra.
Ex.:
1- Stephen King, é o que autor
concebe tramas mais extravagantes. Sua habilidade, por um lado, em recria os
diálogos e detalhes da vida cotidiana, e por outro, orquestrar sua história com
um nível tão grande de emoção que, apesar dos elementos de fantasia,
suspendemos na maior felicidade nossa incredulidade.
2- Pode um jovem advogado
escapar de uma firma de advocacia que parece respeitável, mas secretamente lava
dinheiro para a Máfia, cujos assassinos liquidam qualquer advogado que sequer
fale em tentar se afastar? Temos aí a questão dramática e o alto conceito de A
Firma, de John Grisham.
MÚLTIPLOS PONTOS DE VISTA
Envolve emocionalmente o
leitor com mais de um personagem. Não é primariamente narrada por um autor
onisciente ou por um único personagem no romance, na primeira pessoa, mas, se
expressa pelos sentimentos, pensamentos e sensibilidades do núcleo principal
personagens. Não é a voz do autor que descreve, em vez disso, somos levados a
perceber e experimentar o mundo singular criado através dos próprios sentidos
dos personagens. Só seus sentimentos e emoções proporcionam a luz, às vezes
distorcida, mas em geral intensa, pelo qual o vemos e aos outros personagens
com que se relaciona.
Ex.:
1- Em O Homem de São
Petersburgo, Cada capítulo, em sua totalidade ou em parte, é escrito exclusivamente
do ponto de vista de um dos quatro personagens principais. A ação de Follett
permanece eletrizante, aquele que tem o maior envolvimento emocional, que tem
mais em jogo no que está acontecendo. Quando Feliks é perseguido por Londres,
com um medo desesperado de ser alcançado, experimentamos a fuga frenética
através de sua sensibilidade.
O desenvolvimento da
história através dos sentimentos profundos, esperanças e anseios de cada uma
dos personagens, com antecedentes e personalidades muito diferentes,
proporciona complexidade e riqueza psicológica, um mini-espectro de cores
ausente quando, relatada de um único ponto de vista. Como escrever quatro
estórias separadas, que a todo instante colidiam em cruzamentos dramáticos
essenciais.
CENÁRIO
Os leitores gostam de
escapar para as mentes, corações e vicissitudes de personagens fictícios, mas
também gostam de ser atraídos para ambientes novos e desconhecidos, até
exóticos.
Passamos por lugares de uma
forma quase regular, pouco ou nada sabemos sobre bastidores, problemas
cotidianos, complexidades técnicas. Acrescentada a uma boa história, essa massa
de informações torna-se uma experiência de aprendizado e os leitores são
pessoas que gostam de aprender.
Ex.:
1-Em, A Caçada ao Outubro
Vermelho, de Tom Clancy, provavelmente contém tantas informações técnicas sobre
submarinos e guerra submarina quanto se poderia encontrar num manual da
Academia Naval.
ADVERTÊNCIA
Ficção é uma arte, e, não
matemática. É possível expor e analisar de uma forma meticulosa os elementos,
técnicas e estruturas com que a maioria dos best-sellers foi desenvolvida. Na
arte, não há regras precisas. Se um autor é brilhante para fazer com que seu
livro dê certo, ignorando o que é aceito como elementos fundamentais do
Best-seler, então, tudo bem.
Sugiro vários pontos de
vista de personagens para um grande romance, em geral pelo menos três. Dois dos
romances mais maravilhosos e bem-sucedidos, Acima de Qualquer Suspeita e O Ônus
da Prova, de Scott Turow, foram escritos exclusivamente do ponto de vista de um
único personagem.
Para o romance ser grande, o
leitor deve ter empatia (ou melhor, gostar intensamente) com um dos personagens
principais, até mesmo dois ou três. Em A Fogueira das Vaidades, de Tom Wolfe, linha
a linha, seu texto transborda de espírito, insinuações, uma linguagem fresca e
brilhante, com uma trama intrincada; o pano de fundo da história, em detalhes
reveladores, resumia os excessos da década de 1980. Sua sátira funcionou, e, a
regra não.
O que está em jogo na minha
história é monumental, pelo menos para meus personagens principais? Estou
criando um personagem (ou talvez dois) que seja extraordinário de alguma forma,
até memorável? O rumo de meu romance pode ser resumido numa questão dramática
simples, mas forte? Minha trama se desenvolve em torno de um conflito de alto
conceito, como os que se encontra em quase todos os livros de Sidney Sheldon ou
Michael Crichton? Estou desenvolvendo pelo menos um personagem (e de
preferência mais de um) com o qual o leitor se tornará emocionalmente
envolvido? Estou situando meus personagens num ambiente que é de algum modo
insólito ou excitante, um ambiente que fará o leitor sentir que está
ingressando num cenário único?