quarta-feira, 9 de abril de 2014

O SEU TEXTO É UMA BOA IDEIA?

ALTAS APOSTAS

Está em jogo algo da maior importância — para um personagem, uma família, às vezes uma nação inteira. A vida de pelo menos um personagem destacado corre perigo. O indivíduo em perigo costuma representar não apenas ele próprio, mas uma comunidade, uma cidade, todo um país.

Em muitos grandes romances de mulheres, no entanto, o que está em jogo não é vida ou morte, mas a realização pessoal, como acontece com Scarlett em E o Vento Levou. Essa perspectiva — a consumação ou não de um relacionamento amoroso — possa parecer por si mesma trivial, da vida cotidiana, os desejos, anseios e paixões dessas heroínas recebem de suas criadoras uma intensidade tão vigorosa e inexorável que o que está em jogo para elas parece ao leitor tão poderoso quanto um homicídio ou uma catástrofe nacional.

Ex.:
1- Feliks, O Homem de São Petersburgo, como caçador, se tiver êxito, não apenas mata um homem, mas com isso também impede que a Rússia se alie à Inglaterra contra a Alemanha; salvará assim milhões de seus jovens compatriotas de serem mortos numa guerra insana. Para Lorde Walden e os agentes britânicos que perseguem Feliks, as apostas são altas. Se conseguirem proteger o príncipe russo, não salvam uma vida humana, preservam uma aliança com o Czar, ao mesmo tempo,  salvam sua amada Inglaterra de ser dominada pelo Kaiser.


PERSONAGENS MEMORÁVEIS

Personagens memoráveis. Os personagens na ficção, como na vida, são definidos pelo que fazem, e nos grandes romances os personagens principais fazem coisas extraordinárias.

Ex.:
1-Don Corleone em O Poderoso Chefão deseja um papel num grande filme de Hollywood para seu afilhado. O diretor do estúdio, indignado por ser sutilmente ameaçado, rejeita o pedido. O Don, para demonstrar seu poder e determinação, providencia para que o grande troféu do executivo, um cavalo de corrida vitorioso, seja morto, e sua cabeça cortada posta na cama do homem. Virtual poder absoluto sobre seus parentes, servidores e extensas áreas de empreendimentos ilícitos.

2-E o Vento Levou, Scarlett é apresentada como uma adolescente, volúvel, irreverente, egoísta e mimada. Quando a maré da guerra vira contra a Confederação, e Atlanta, um inferno, está sendo invadida, Scarlett encontra a mãe morta, pai senil, irmãs acamadas, plantação devastada, não há dinheiro, nem comida. Ela, que nunca trabalhara, reúne energia e coragem para arar os campos e obrigar os criados rebelados e as irmãs a ajudarem. Quando um ianque ameaçador invade a casa,tem a presença de espírito de pegar uma pistola, e depois encontra coragem para atirar no ladrão. O meio que lhe ocorre para não perder sua amada plantação, pelo não pagamento de impostos, é persuadir Rhett Butler a casar com ela. Mas não se apresenta como uma suplicante. Ela corta as cortinas de veludo de sua mãe para fazer um vestido, a fim de poder se apresentar a ele como uma rainha concedendo favores.


A QUESTÃO DRAMÁTICA

O personagem conseguirá fazer o que precisa? Conquistará o que necessita? Se tornará e terá seu anseios pessoais realizados? O que ele precisa acontecerá. Como seu aliados colaborarão e seus inimigos o atrapalharão?

A Questão Dramática do início ao fim gira em torno disso. A expectativa crescente, de que o protagonista consiga o que quer, passando por obstáculos e mais obstáculos, até o clímax — o obstáculo derradeiro, o tudo ou nada!

O Protagonista conseguirá ou o Antagonista o impedirá? Sobre os personagens que se opõe, quem vencerá?
À primeira vista podem parecer complicadas.Em E o Vento Levou, por exemplo, seria longa e complexa. Uma análise cuidadosa, revelaria que a Espinha Dorsal — o conflito central persistente, em torno do qual os personagens principais interagem, a questão fundamental que impulsiona e integra suas incontáveis cenas — não poderia ser mais básica e definida. Essa fundação é o fator de suspense, que eu chamo de Questão Dramática.

Ex.:

1- E o Vento Levou há três questões dramáticas: Scarlett conseguirá fazer com que Ashley retribua seu amor? E mais adiante, depois que se torna evidente que Ashley não é o homem certo para ela: Scarlett reconhecerá que na verdade é Rhett quem ela ama? E Rhett algum dia conseguirá conquistar o amor dela?

2- Em O Buraco da Agulha, é o seguinte: Needle conseguirá escapar para a Alemanha com os planos aliados para a invasão no Dia-D, ou os agentes britânicos conseguirão pegá-lo antes?

3- O Dia do Chacal, gira em torno de uma tentativa de assassinar Charles de Gaulle. Aqui, a questão dramática é bem simples: O Chacal conseguirá liquidar o presidente francês, ou o inspetor de polícia, em seu encalço, poderá descobri-lo primeiro, e evitar que isso aconteça?
Não apenas os grandes livros, mas também os romances de gênero e as obras românticas, também são estruturados sobre uma questão dramática expressa: O detetive vai encontrar o assassino? A heroína vai se unir ao homem de seus sonhos? Esses livros carecem de outras características do grande romance.


ALTO CONCEITO

Alto Conceito é questão dramática forte, que possibilita produzir um grande livro. Em essência uma premissa radical ou mesmo um tanto extravagante.

O ponto a ressaltar aqui é que os grandes livros precisam ser construídos sobre situações bastante dramáticas, tramas que incluem ações bizarras e surpreendentes, e que levam a uma vigorosa confrontação depois de outra.

Ex.:

1- Stephen King, é o que autor concebe tramas mais extravagantes. Sua habilidade, por um lado, em recria os diálogos e detalhes da vida cotidiana, e por outro, orquestrar sua história com um nível tão grande de emoção que, apesar dos elementos de fantasia, suspendemos na maior felicidade nossa incredulidade.

2- Pode um jovem advogado escapar de uma firma de advocacia que parece respeitável, mas secretamente lava dinheiro para a Máfia, cujos assassinos liquidam qualquer advogado que sequer fale em tentar se afastar? Temos aí a questão dramática e o alto conceito de A Firma, de John Grisham.


MÚLTIPLOS PONTOS DE VISTA

Envolve emocionalmente o leitor com mais de um personagem. Não é primariamente narrada por um autor onisciente ou por um único personagem no romance, na primeira pessoa, mas, se expressa pelos sentimentos, pensamentos e sensibilidades do núcleo principal personagens. Não é a voz do autor que descreve, em vez disso, somos levados a perceber e experimentar o mundo singular criado através dos próprios sentidos dos personagens. Só seus sentimentos e emoções proporcionam a luz, às vezes distorcida, mas em geral intensa, pelo qual o vemos e aos outros personagens com que se relaciona.

Ex.:

1- Em O Homem de São Petersburgo, Cada capítulo, em sua totalidade ou em parte, é escrito exclusivamente do ponto de vista de um dos quatro personagens principais. A ação de Follett permanece eletrizante, aquele que tem o maior envolvimento emocional, que tem mais em jogo no que está acontecendo. Quando Feliks é perseguido por Londres, com um medo desesperado de ser alcançado, experimentamos a fuga frenética através de sua sensibilidade.

O desenvolvimento da história através dos sentimentos profundos, esperanças e anseios de cada uma dos personagens, com antecedentes e personalidades muito diferentes, proporciona complexidade e riqueza psicológica, um mini-espectro de cores ausente quando, relatada de um único ponto de vista. Como escrever quatro estórias separadas, que a todo instante colidiam em cruzamentos dramáticos essenciais.


CENÁRIO

Os leitores gostam de escapar para as mentes, corações e vicissitudes de personagens fictícios, mas também gostam de ser atraídos para ambientes novos e desconhecidos, até exóticos.

Passamos por lugares de uma forma quase regular, pouco ou nada sabemos sobre bastidores, problemas cotidianos, complexidades técnicas. Acrescentada a uma boa história, essa massa de informações torna-se uma experiência de aprendizado e os leitores são pessoas que gostam de aprender.

Ex.:
1-Em, A Caçada ao Outubro Vermelho, de Tom Clancy, provavelmente contém tantas informações técnicas sobre submarinos e guerra submarina quanto se poderia encontrar num manual da Academia Naval.


ADVERTÊNCIA

Ficção é uma arte, e, não matemática. É possível expor e analisar de uma forma meticulosa os elementos, técnicas e estruturas com que a maioria dos best-sellers foi desenvolvida. Na arte, não há regras precisas. Se um autor é brilhante para fazer com que seu livro dê certo, ignorando o que é aceito como elementos fundamentais do Best-seler, então, tudo bem.

Sugiro vários pontos de vista de personagens para um grande romance, em geral pelo menos três. Dois dos romances mais maravilhosos e bem-sucedidos, Acima de Qualquer Suspeita e O Ônus da Prova, de Scott Turow, foram escritos exclusivamente do ponto de vista de um único personagem.

Para o romance ser grande, o leitor deve ter empatia (ou melhor, gostar intensamente) com um dos personagens principais, até mesmo dois ou três. Em A Fogueira das Vaidades, de Tom Wolfe, linha a linha, seu texto transborda de espírito, insinuações, uma linguagem fresca e brilhante, com uma trama intrincada; o pano de fundo da história, em detalhes reveladores, resumia os excessos da década de 1980. Sua sátira funcionou, e, a regra não.

O que está em jogo na minha história é monumental, pelo menos para meus personagens principais? Estou criando um personagem (ou talvez dois) que seja extraordinário de alguma forma, até memorável? O rumo de meu romance pode ser resumido numa questão dramática simples, mas forte? Minha trama se desenvolve em torno de um conflito de alto conceito, como os que se encontra em quase todos os livros de Sidney Sheldon ou Michael Crichton? Estou desenvolvendo pelo menos um personagem (e de preferência mais de um) com o qual o leitor se tornará emocionalmente envolvido? Estou situando meus personagens num ambiente que é de algum modo insólito ou excitante, um ambiente que fará o leitor sentir que está ingressando num cenário único?